domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sem fim-de-semana

Comecei segunda-feira, não sei quando páro, mas estou feliz.

Vinte e quatro anos e uma amiga nova. Uma semana em que não houve uma noite em que tenha dormido mais de cinco horas, uma semana de trabalho a prolongar-se até às nove, dez, onze, meia-noite, e a começar a um quarto para as oito. Uma semana com seis dias. Uma semana sem jornais, sem música, sem filmes, sem crochet, sem blogue, sem bolachas maria, sem livros, sem desenhos, sem aulas, sem cadela. Uma semana sem parabéns à avó e ao mano. Uma semana em que a festa se fez com uma ninharia, num quarto do hotel de cinco estrelas que nos estavam a pagar, espalhados pelas camas e pelas cadeiras, uma semana em que não tive de me sentir mal por achar que sair à noite é uma seca. Uma noite de copos e jogos com os pijamas vestidos e a cagar para as horas de sono.Uma semana a fazer um trabalho automático, de pés doridos, de costas doridas, de dores de cabeça, de contributo às varizes que hão-de vir. Mas uma semana com um muito inesperado calor humano.

Com estas músicas na cabeça até me esqueço que é Inverno, e que Inverno.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Período de céu muito nublado

Havia uma caminhada pronta a ser calcorreada! 30 km.
Ontem, os colegas de Educação Física ainda me diziam com entusiasmo que, com uma roupa impermeável, seria uma maravilha.
Passei pela Sport Zone depois das aulas. Não havia calças inteiramente impermeáveis, disse a menina. Comprei o mais inteiramente impermeável que me apareceu à frente: um fato de treino um bocado medonho. Um S, que me sobra nas pernas e me falta nas mangas. Um fenómeno para enfrentar fenómenos metereológicos. No caminho para casa, ouvia na rádio o arco íris dos alertas da Protecção Civil. Olhava para o fenómeno no saco. Suspirava.
Hoje acordei ás 7h, com um assobio no ouvido. Procurei a janela. O alerta fazia-se cumprir, pelo menos às 7 da manha. Mandei mensagem ao colega e mergulhei no vale dos lençois.
Passei a tarde enfiada num café entre conversa de mulheres, meias de leite e torradas.
Espero agora ansiosamente um evento digno para a estreia do fato de treino. Talvez um tsunami.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Crónicas do dia a dia!

Ontem à noite na piscina onde todas as semanas nado para cá e para lá, para lá e para cá, víamos a trovoada através dos vidros e a criançada gritava de dois em dois minutos, fazendo de todos aqueles momentos uma contínua loucura: mergulhar, levantar a cabeça, ouvir os gritos dos miúdos, mergulhar, levantar a cabeça, levar com a luz dos raios nos olhos, mergulhar...
Terminamos a sessão, com os parabéns ao sr João. Não me atrevi a perguntar quantos eram, mas desconfio que uns 80. O sr. João, com uma mola no nariz, comovido agradeceu a todos, enquanto as luzes acendiam e apagavam, dementes com a trovoada...mas fazendo crer o sr João que aquilo era tudo para si.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Descobrimentos Musicais - The Portugals

Não são bem uma novidade, pois o primeiro trabalho publicado é de Outubro de 2008, mas só agora os apreciei devidamente. Os The Portugals são uma banda do Porto e autores do disco SETUBAL (assim mesmo, em maiúsculas e sem acento no U) que tem esta belíssima capa:
Soam a herdeiros do shoegaze britânico dos 90s e têm personalidade e pinta suficiente para levarem o Zé da Caixa Award na categoria Mereciam Um Palco Maior (claro que a escolha do nome do EP foi decisiva na atribuição do galardão). Oiçam aqui e vejam aqui:

Em Portugal a boa música resiste. Resiste!

Não dá para ficar de fora

Sabe-se que é hora de criar um perfil quando se tem convites pendentes dos... pais.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O lugar das mulheres é na cozinha

Ás 3 da tarde leio a receita: tarte de maçã com cobertura crocante.
Devia ter suspeitado que aquela quantidade absurda de farinha atirada para cima da massa, sem ser mexida, sem ser revolta, era mau pronúncio. Como em tudo na vida, as coisas para terem gosto devem misturar-se umas com as outras e a farinha, queria-se ali, orgulhosamente só, por cima da massa e da maçã.
Ás 3 e meia da tarde, ignorando o egocentrismo da farinha, atirei-me aos ovos, à manteiga, à forma. Um nojo, em menos de 10 minutos tinha a cozinha num nojo.
Meia hora depois, aquilo, aquilo que se diz, tarte de maçã com cobertura crocante, estava pronta para ir ao forno.
Ás 4 horas, continuava a tentar ligar o forno da cozinha da casa dos meus pais, e suava e bufava e revirava as grelhas e aquela porcaria não acendia.
Ás 4 da tarde, com o forno já aceso, a cozinha feito campo de batalha e a tarte já ao lume, começa a sentir-se um cheiro estranho.
Ignorei solenemente. Sentada no sofá da sala, pensei: é a porcaria da farinha a misturar-se com o resto, snobe dum raio ainda por cima teima em cheirar mal.
Ás 4 e 10 da tarde, o cheiro da farinha snobe, confundia-se com o cheiro de um incêncio. Um cheiro de infância, quando o primo pegou fogo á palha do galinheiro na casa da avó e por pouco não houve mortos. As galinhas.
Resolvi levantar-me. Segui a nuvem de fumo, como sinal primitivo de contacto: a besta da farinha queria travar-se de conhecimento. Bom, já não era só a farinha...o forno ardia e não sei como, nem porquê.
Ás 4 e 15, desliguei o gás e atirei com água para dentro do forno, em mais uma ideia de uma tarde de ideias inteligentes. Apaguei o fogo. Resgatei a tarte.
Agora, a esta hora, ninguém entra na cozinha. Eu, sinto-me uma refugiada gastronómica, apatria e pestilenta. A puta da farinha, nem na iminência de um destino ainda mais trágico, se dignou a misturas.
Amanha, experimento outra receita.

"Dose da fatia de um doce"

A poesia de João Negreiros, os chorinhos e o fado por uma guitarra portuguesa, por uma guitarra clássica. Quinta feira à noite, num primeiro andar de uma livraria ali para os lados da Praça Carlos Alberto.
Ficam as palavras.
Dose da fatia de um doce
Dá-me um bocadinho do teu amor
todos os dias
Não mo dês todo hoje
que amanhã vou precisar dele outra vez
eu sei
conheço-me bem e nesse aspecto
sou exactamente como o resto da humanidade
preciso de ser amado todos os dias
só espero não morrer muito velhinho
para que o teu amor
me dure até ao fim da vida
in "o cheiro da sombra das flores" de João Negreiros

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Invictus

***
É um 3 pequenino.
A história é melhor do que o filme, claro, mas o Morgan Freeman é melhor para o papel do que o Nelson Mandela. Sabem o que eu quero dizer, a cara do Mandela não parece ser suficientemente séria para a vida que teve.

Precious

***

Whatever Works

(Ó, A que ainda não tem nome, o cinema aí é tão bom como o daqui?)
****
O que importa é ser feliz.
De assinalar que, talvez por ter sido no Londres, a sala estava cheia de senhoras de cabelo armado e a média de idades devia rondar os quarenta e cinco anos.
Não quero ser preconceituosa, mas estou em crer que a maioria daquela gente achou imensa piada ao filme porque "O Woody Allen é uma graça, tão provocador, não acha?" mas essas excentricidades só ficam bem a gente com muito dinheiro.
Passada essa noite e dormidos sobre o assunto, voltaram todos a achar que a vida é para ser vivida como a repetição de uma fórmula.
Fórmula que cheira a bolas de naftalina e a laca de cabelo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Música Encomendada

Charlotte Gainsbourg- 5:55 (2006) O carteiro Pat voltou a visitar-me e desta vez trouxe-me a Charlotte Gainsbourg e o seu primeiro disco 5:55. A música é dos Air e há letras do Jarvis Cocker. Ainda só ouvi uma vez, ou seja, ainda estou deslumbrado e demasiado próximo para poder escrever objectivamente... o que é óptimo: acredito que só devíamos escrever sobre aquilo de que gostamos. A própria capa do disco é lindíssima, elegante e sóbria. Para aperitivo escutem e vejam o tema que dá o título ao disco:
Depois de ouvir isto a primeira vez apeteceu-me escrever à Charlotte (e dizer-lhe que ia ter com ela à França para sermos felizes os dois) para agradecer por me deixar com uma bola de ténis dentro do peito. Mas uma bola boa, que para a má já não há saco.
Merci Charlotte.
Votre ami (et plus laissez moi être),

Whatever Works

O último de Allen é um regresso às origens: Nova Iorque e uma "crónica" improvável da vida diária de gente como nós. Não há lugar para grandes fantasias, há sim, aquilo a que Woody Allen nos habituou há muitos anos: através de Boris (a personagem principal), mergulhamos na causticidade do realizador, num mundo imperfeito e cheio de imperfeições, onde o comum nunca é vulgar e onde a esquizofrenia adquire uma comicidade que roça a ternura.
Não conseguimos chegar a gostar de Boris, mas também nunca o chegamos a detestar. No fundo, torcemos por ele, como torcemos por todos os que nos rodeiam, cheios de vícios e manias, cheios de defeitos e pormenores. Gente como nós. Alguns mais loucos do que muitos de nós conseguiremos um dia ser. Vidas em que, no final e afinal, tudo poderá vir a dar certo, dependendo do que é certo e independentemente do caminho que se leve para lá chegar.
Armando-me em crítica de cinema ou em Miss Chica, atiro 3 estrelas!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"O gosto dos outros"

Com o tempo percebemos que gostamos muito, tanto, mas que o tanto que gostamos é só um gostar tanto que mais nunca poderia ser do que gostar. Tanto, mas ainda assim não tanto, que não chega para substituir o verbo e o tentar eterno enquanto durar.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Está viva!

Está de regresso a rapariga-que-gostava-de-engomar-as-camisas-dum-certo-senhor-inglês-que-nos-canta-ao-ouvido. Sigam-na aqui.

Descobrimentos Musicais - Broken Bells

Broken Bells são óptimos. Oiçam-nos aqui enquanto fazem qualquer coisa em casa e verão (Verão!) que repetirão algumas vezes.

Cada Vez Mais

Chica von Trapp
Mas sem a parte da cantoria, coitadinhos dos meninos que me ouvissem cantar.
Ontem tivémos uma sessão de quarenta minutos de
E se eu comesse:
o dvd - depois abrias a boca para nós vermos filmes
a almofada - depois encostávamo-nos em ti para adormecer
verniz - ficavas com a barriga cor-de-rosa
a cama - nunca mais te levantavas
o pónei - tínhamos de te levar ao médico
cabelos - tinhas de pentear a barriga
a camisola - nunca mais tinhas frio
as pantufas - cheiravas a chulé
a caneca - tínhamos de ir ao médico
livros - já não precisavas de aprender a ler
sabonete - médico
champô - médico
a televisão - ficavas com a barriga quadrada
o tapete - já te podias deitar no chão
a tua mala - não a minha mala faz-me falta
chichi - xxxxxiuuuu!
cocó! - xxiuuuuu!!! Isso já não tem piada!
E o M. que tem dois anos e estava quase a dormir desata-se a rir às gargalhadas.
chichi, cocó, chichi, cocó, chichi, cocó!
E eu lá voltei a frisar a falta de piada daquilo, expliquei-lhes que esse tipo de piada era para o povão, Fernando Rocha e pessoas sexualmente reprimidas no geral, e que nós apreciávamos um tipo de humor mais sofisticado, tipo Madagáscar, Incríveis, Monstros e Companhia e jogos de "E se eu comesse qualquer coisa menos chichi e cocó". Ou então fiz só uma cara muito terrível.
A M. fez um olhar culpado, fingiu que não se tinha passado nada e continuou:
E se eu comesse:
A cadeira - podias dar colo aos crescidos
...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Faça-o você mesmo

O dia dos namorados irrita-o?
Não tem ninguém que lhe ofereça um presente? Não desespere, eu tenho a solução e vou partilhar consigo.
Ele: "Stora, daqui a pouco vem cá o pessoal do Clube do Amor (sim, na escola há um auto denominado Clube do Amor... agora também há um plasma à entrada da sala de professores que divulga notícias como: já foram afixadas as datas das reuniões dos cursos!)entregar as cartas das admiradoras."
Eu: "Ai é? e achas que vais receber muitas?"
Ele: "Cinco, vou receber cinco que escrevi para mim e meti lá...ehehe...Agora daqui a pouco estão aqui para entregar. Fiz letra diferente em todas!"
Pronto, é fazer valer o lema: "Se eu não gostar de mim, quem gostará?"

And Now Something Completly Different

Respirar fundo.... E arrumar a casa.
(Deerhoof vêm cá em Março!)

Tenho a Casa Num Caos

Só não há muita vontade para se fazer nada. Hoje em dia compreendo a vida de universitário. Compreendo tudo. E ao mesmo tempo compreendo as mulheres descompensadas emocionalmente e que têm (e também que não têm mas arranjam, sabe-se lá de que forma) dinheiro para estoirar todos os dias em pequenos mimos que as vão poder fazer sentir bonitas. Acabou a época de exames. (só) Chumbei a uma cadeira depois de meses em casa, na faculdade, nos cafés, em casa de amigos, debruçada sobre livros com nomes como renina-angio-tensina, ácido acetilsalicílico, beta-hidroxiácido e outros que tais. Nas nossas cabeças ecoava. Meses a a não poder ir porque "estou a estudar", a não poder fazer porque "vou ter exame", a não poder sequer pensar porque "socorro, é já amanhã". E a sensação que fica depois disto tudo é uma inevitável tendência para a porcaria. De repente dás por ti a ir às compras e a escolher uma garrafa de vinho tinto em detrimento de um monte de laranjas. Dás por ti divertidíssima enquanto estoiras dinheiro em lojas de roupa todos os dias e em coisas Ikeas que depois nem sequer lhes vais dar uso porque afinal não gostaste de ver aquele mamarracho na tua sala de estar, e que já nem sequer podes trocar ou devolver porque tiraste da embalagem. Dás por ti a viveres bem com o facto de seres cada vez mais desinteressante em termos culturais, políticos, religiosos, críticos, etc, porque já não estás nem aí para esforços mentais extra curriculares. Dás por ti a teres vontade de sair muito mais do que o normal (sim, fui ao Lux na semana passada) e a aperceberes-te que te estás a transformar numa típica estudante de ciências: fútil, básica, e desinteressante (mas super divertida e que sabe imenso sobre como fazer uma algaliação!). Nada disto soaria estranho, para quem não me conhece. Eu, uma pessoa aborrecida, pessimista e inconformista que adormece em todos os filmes que se põe a ver à noite, que não gosta de ir a discotecas, que não tem paciência para gente parva, chata e desinteressante que gosta de ir a discotecas, de ir "beber um copo" ou de " tomar um cafézinho" (aquelas expressões que dão arrepios só de as ouvir). Eu, uma pessoa que não bebe, não fuma, não se droga e cuja bebida preferida é o chá. Começo a acrescentar alguns pretéritos imperfeitos na minha vidinha. Obrigada Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.

O Bróculo Vai à Bélgica

Ontem fui à reunião que iria decidir se vou ou não no programa Erasmus 2010/2011, e parece que sim. Fui das últimas a serem chamadas e portanto já não consegui ir para Helsínquia, Praga ou Verona, mas ainda assim consegui ficar bem colocada em Brugge ou a "Veneza do Norte" (único senão: já lá estive). Vou aprender a falar Francês (e, quem sabe, Flamengo), a andar de bicicleta como meio de transporte, a viajar de TGV no centro da Europa, e a apanhar barcos para Inglaterra. Talvez aprenda também um bocadinho de como ser enfermeira, se houver espaço. Mas só daqui a um ano.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Sobre o Optimismo

Há exactamente um ano eu estava assim.
Não é a minha altura preferida do ano sabem, mas bem vistas as coisas, acho que estou melhor agora.

Dia dos Namorados I

Para que percebam porque é que este é um blogue de corações solitários.
I - Quando vamos na rua, no Ikea ou no Continente e damos subitamente de caras com um nosso ex-namorado e a sua actual somos extremamente educadas e sorrimos com os dentes todos arreganhados porque estamos a pensar:
a) Ó como ela é horrorosa! Vou ficar aqui à conversa só para ele ter tempo suficiente para nos comparar e chorar lágrimas de sangue quando chegar a casa. Já o sinto a engolir a frustração em seco. Pois é bebé, não me parece que fosse isto que tinhas em mente quando decidiste deixar-me para procurar melhor.
b) Sim, estou a ser simpática para a tua namorada porque já passei pelo mesmo e ela tem toda a minha solidariedade.
c) Olha como eu consigo sorrir para vocês enquanto grito por dentro: Deixa essa puta e volta para mim! Vês? Consigo sorrir, não estou assim tão desesperada. Agora pára de fazer perguntas sobre a minha vida e deixa-me ir a correr para o corredor dos pensos higiénicos para poder chorar à vontade no meio de mulheres menstruadas.
d) Ui, como a minha memória é generosa com as pessoas. Como é que eu pude jogar no mesmo campeonato que estas pessoas? Blargh.
e) Uau, como parecem felizes! Será que ela continuava a sentir pena de mim se soubesse as mensagens que me mandas?
f) Sim, sim... Que bom que estás empregado, casado, grávido, carro novo, blablablá. E que chatice que eu continuo na mesma. Ao menos não estou obesa como essa gaja e não tenho pêlos a nascerem-me no nariz e nas orelhas como tu. E olha, ainda tenho o cabelo todo. AH, e para mim divertimento não é uma reunião da Bimby ou da Tupperware, desculpa lá se ainda pareço uma miúda.
.
Depois, dependendo da situação, arrancamos a faca que nos espetaram nas costas, damos meia volta e avançamos na linha mais recta que os nossos joelhos trémulos de raiva permitirem, tentando não derrubar nada nem ninguém. Ou então ligamos às amigas para uma barrigada de riso.

Sugestões de Leitura

A revista Visão e a Sábado estão desde os últimos dias de Janeiro a fazerem-se acompanhar, por mais um euro, por duas colecções de livros. A publicidade gratuita a estas duas publicações, justifica-se pela qualidade e pela excelência de alguns autores - de Pepetela ou Mia Couto a Noah Gordon, só para citar alguns. Para quem gosta de ler, a quem a crise continua a comer os calcanhares, aqui está uma boa oportunidade para fazer crescer a biblioteca.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Música Encomendada

Receber uma encomenda postal continua a ser um prazer infantil. A última trouxe-me duas rodelas (para dizer CDs como o valter hugo mãe). A que vos mostro hoje:
Electronic (1991) - Banda e disco com o mesmo nome, é o primeiro registo do supergrupo formado em finais de 80 em Manchester (where else?) pelos gigantes Bernard Sumner (New Order) e Johnny Marr (The Smiths). Música pop, redonda e fácil de ouvir até à exaustão e de pôr toda a gente a bater o pezinho. E continuo a adorar a ironia das letras sobre coisas miseráveis em ritmos trólaró, como na bossa nova. Fica aqui o Getting Away With It que foi lançado como single em 1989 (vindo depois a integrar o primeiro disco Electronic) e tem a participação de Neil Tennant (Pet Shop Boys). Para vos animar o dia (ou não, se ouvirem com atenção...).

E ainda o Get The Message, aqui num playback mauzito para a televisão.

Os anos 90 foram mesmo muito bons!

Chatwin

Conheci-o primeiro pelo nome. Depois procurei-lhe a vida. Hoje, a esta distância, julgo que o meu fascínio por ele, foi quase uma extensão do fascínio que tinha pelo homem que dele me falou. Sempre me intrigaram os espíritos livres. Os que partem. Os que só olham para trás um minuto antes do sono chegar e portanto, no dia seguinte nenhuma memória dessa visão, se levanta com eles. Hoje, novamente hoje e a esta distância, sei o quanto a liberdade dos outros custa aos que ficam. Ainda assim, não posso deixar de me comover sempre que os vejo partir. Ainda assim, não posso deixar de desejar, um dia fazer parte dessa tribo. A tribo dos que vão. Dos que poderão não voltar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Num fim de semana radical, numa quinta perdida no meio de Seia dou por mim, atrás de um pinheiro, tresloucada aos tiros num jogo de paintball. As regras tinham-nos sido explicadas previamente: quem fosse atingido tinha de sair. Nós contra os monitores. Eu atrás do pinheiro já cravejada de "balas" côr de rosa recusava-me a sair dali. Qual Jesus Cristo, ressuscitada a cada 5 segundos e capaz de uma carnificina, só pensava que, enquanto não me vissem "morta", ainda podia dar cabo de uns três ou quatro, defender o meu castelo e proteger os meus. O instinto de sobrevivência alheado do faz de conta,o primitivismo a subir-me pelo corpo e eu a rastejar pelo chão tão humana e desumana como tantos que caem nos campos de batalha em guerras que nunca chegam a compreender, mas que alguém lhes disse serem justas.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A música da minha vida

nunca vai estar completamente definida nem catalogada, mas boa parte dela encontra-se na colectânea Factory Records Communications 1978-92.

A caixa, que é de um enorme apuro estético como tudo o que vem da Factory, tem 4 discos cronologicamente divididos. O primeiro vai de 1978-81 e contém os primeiros momentos da mítica editora com os inevitáveis Joy Division, Cabaret Voltaire, A Certain Ratio, The Durutti Column e ainda entram os New Order. É sombrio e forte. O segundo disco cobre 1981-84 e já se nota a synth pop e a electrónica a nascer, começa-se a bater o pezinho ao som dos New Order já com identidade totalmente definida. O terceiro vai de 1983 a 1987 e já encontramos os James, os Happy Mondays e os Section 25. O último, que é para mim o melhor, vai de 1988 a 1992. É o mais luminoso, dançável e alegre dos quatro discos, confirmando a tendência que marcou aquela época em Manchester que começou com o cinzento do betão e dos armazéns abandonados e acabou no Haçienda com os New Order como a primeira banda "que pôs os brancos a dançar". A festa continua com os Happy Mondays, os Electronic e os Northside. A caixa traz ainda um livro com a história da Factory e a ficha técnica de todos os temas com comentários pelos autores. Um luxo.

Transcendências

Lemos o horóscopo religiosamente porque de vez em quando diz coisas assim:
"Válido durante várias semanas : Se sua vida amorosa tiver deixado muito a desejar ultimamente, as coisas vão começar a melhorar a partir de agora. "
E como se quer acredita-se. E para o dia seguinte diz:
"O amor agora a convida a não levar as coisas tão a sério. Pule em cima de sua sombra, não tente planejar* tudo e seja um pouco menos pedante" -* sim, é português do Brasil.
E nós até engolimos o pedantismo porque isto é só trânsitos de Vénus há já umas semanas, não nos podemos queixar muito.
É sobretudo bom ler o horóscopo nestas circunstâncias, em que a vida está tão mas tão aborrecida que nós somos condescendentes o suficiente para não esperar que a coisa se concretize mesmo, e nos contentamos com as previsões como quem recebe umas palmadinhas nas costas.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Com tanto apartamento para alugar neste país e os senhores Etarras foram logo alugar um em Óbitos, correndo o risco daquele material todo explodir por acaso e arrasar com a Aldeia Natal ou a Aldeia de Chocolate ou com o Hélder da Praça da Alegria que faz os directos todos dos eventos. Por mim, acho que da próxima vez antes deveriam contactar a Remax.

O efeito ron ron

Ontem numa loja de Chineses, assisiti a esse fenómeno que pelos vistos atravessa todas a línguas e culturas. Na caixa, enquanto me atendia com a maior cara de frete, o rapaz chinês, ronronava ao telefone. Do outro lado o ron ron era ainda mais sonoro e ele derretia-se para dentro da caixa registadora, num miar que nunca mais acabava.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Generosidade

Percebemos definitivamente que as coisas não estão bem quando, vamos fazer uma transferência de “nós” para “nós” e nas opções, surge qualquer coisa como Conta Solidária, que não tem este nome, mas tem outro que agora não me lembro, mas cujo sentido é o mesmo e carregamos muito rapidamente na tecla ao lado, mas ficamos a remoer e a pensar nos pretinhos e no Haiti de pretinhos mais clarinhos, o resto da manha. Sovina, cabra insensível, egoísta e outros predicados que tão bem qualificariam a nossa pessoa, ecoam pela cabeça. Por volta da uma da tarde, Deus dá-nos oportunidade de redenção e vemos ao longe, num cruzamento, uns sujeitos com uns coletes vermelhos, com uma letras brancas. Fazem-nos paragem e não hesitamos. Um peditório. Oh que maravilha, meu Deu, que sou tão generosa. Abrimos o vidro, recebemos uns elogios à nossa figura e à nossa boa alma, mais o fumo do cigarro na cara e pensamos que os bombeiros estão a ficar com cara de agarrados. Estamos tão sedentas em consolar a consciência que as mãos nos tremem quando tiramos uma nota da carteira e a entregamos ao senhor bombeiro com ar alucinado. Ele dá-nos uma rifa para a mão e rematamos com ar benévolo: “Admiro muito o trabalho dos bombeiros.” Ele olha para nós estupefacto, acenamos e arrancamos. Felizes. Nos semáforos seguintes olhamos satisfeitas para a rifa e lemos: “Ajude os veteranos de guerra, obrigado.”

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Do Norte

Jantamos por aqui. Eu e a Chica. Falamos ininterruptamente desde as 7 da tarde até ás 11 horas da noite. Da vida. Da nossa. Da dos outros. Da dos nossos.

Antichrist

( )
Ainda sou demasiado nova nestas andanças para conseguir classificar este.
Incontornável, isso posso dizer.

Un Prophète

**
E mais ** porque este Tahar Rahim é apetecível mesmo porquinho, ou se calhar por isso mesmo.
(Não me digam que por isto os meus asteriscos são menos sérios do que as bolas ou estrelas de outros senhores)

The White Ribbon

***

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

No dia em que sabemos que vem aí um bebé

A C. e o MKT vão ter um bebé. Eu estou muito proximo da histeria:) A Chica também ficará quando resolver ligar o telemóvel e souber da notícia. Este é um post de alegria privada. Nossa.
A C. é das melhores pessoas que conhecemos e vai ser a melhor mãe do mundo:)
Saudades do que é inicial. Dos começos. Do tempo de todas as incertas certezas. De quando nos basta o pronúncio da voz para que o desejo nos trepe pelas coxas, como uma malha subitamente solta numas meias de vidro acabadas de estrear.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Eu vi a luz

Não sei se isto é o passaporte para o internamento, mas se não é, estou muito próxima de preencher todos os requisitos. Esta noite acreditei piamente que, à frente dos meus olhos, se deslocava uma caravana de OVNIS.
Explico.
Noite cerrada. Um vale profundo. Curva contra curva. Estrada escura. Cansaço. Silêncio.
Depois das curvas fechadas a estrada a voltar a erguer-se num cotovelo. Eu, atenta. Muito atenta ao céu. Muito.
Passo ali todos os dias, mas hoje, de repente, como todas as coisas fascinantes da vida, no meio do escuro surgiu uma caravana de luzes. Brilhantes, brilhantes. 1 segundo. 2 segundos. Num céu falido de estrelas havia luzes. Uma caravana delas e então, percebi: OVNIS.Um cortejo de OVNIS. Numa fracção ínfima de segundos, a minha vida mudou. Imaginei a Chica, no aconchego do lar, de cabelo oleoso, a ver-me nos programas da manhã. Eu explicaria de voz trémula, toldada pela emoção revisitada: "OVNIS bebés, luzes pequeninas, seguidos dos adultos que fechavam o cortejo. OVNIS em migração, numa comunidade organizada para proteger os mais jovens que seguiam no meio. OVNIS sensíveis, ainda por cima."
Foi mais ou menos um minuto em que a minha vida, a percepção do espaço e do Mundo onde vivemos, adquiriu uma nova direcção. 1 minuto até chegar junto a um viaduto e perceber que os OVNIS se deslocavam na A7, por cima da estrada secundária onde eu os avistava. Na portagem, os OVNIS bebés pagariam 1,75euros e os adultos, mais um bocadinho, porque afinal são mais pesados.
Nâo eram afinal OVNIS, mas quero crer que, só a minha convicção no "avistamento" já devia ser suficiente para ir ao programa do Goucha. Ou isso, ou internarem-me.

O Padrinho

Fui convidado, publicamente, para ser Padrinho.

Agora, curvem-se.

Sobre o Perdão

Penso que é muito importante distinguir os maus dos estúpidos.
Embora nem sempre a estupidez seja mais desculpável.

Definição Não Económica de Moratória

(há coisas que não mudam: comer e dormir)
Vir para casa da mãe, dormir no sofá, não tirar o pijama, comer bolachas e chocolate, ficar com o cabelo oleoso enquanto se assiste aos programas da manhã da televisão nacional, ter cinco euros, ligar para a empresa a perguntar quando é que nos pagam, planear uma manta em crochet, comer cereais, ver qualquer coisa na fox, ligar o computador, ir ao facebook, ver a conta de email, nada, voltar ao sofá, adormecer, começar tudo outra vez.