sexta-feira, 23 de julho de 2010

Traz um amigo também

O tempo que aí vem traz o gosto e o conforto das coisas construídas por nós, com as nossas mãos, com todo o nosso açúcar, com todo o nosso sal. Subimos por dias os degraus das escadas que projectamos há anos atrás e que nos parecem agora altas e perfeitas. Pelo meio delas, ficaram beijos roubados, discussões em cozinhas cheias de vento, noites de euforia e de gestos, amores e desamores, filhos feitos por alguns, filhos a crescerem já feitos por outros. Ás vezes, chamo-lhe caminho, outras vezes escadas. Gosto da altura que me proporcionam. Gosto de me sentar no último degrau e pensar que estamos já a construir outro e que um dia, chegaremos ao céu. O tempo que aí vem, traz o gosto e o conforto das coisas cimentadas e ainda assim não certas. Há sempre terramotos. Há sempre incêndios. Aquilo que o homem constrói, Deus pode desfazer num instante. Ainda assim, mesmo assim, sendo assim, quando nestas noites, me deito no último degrau, de olhos esbarrados no céu, penso que nem Deus, se atreveria, a destruir esta obra tão perfeita, a que se um nome tivesse e um dia terminada fosse, se chamaria amizade.

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