domingo, 3 de outubro de 2010

Já não há estrelas no céu

Os 15 anos devem ser a idade mais estúpida na vida de um pessoa. Lembro-me vaga e vergonhosamente dos meus. Hoje, assisto mais ou menos impávida aos 15 anos a entrarem nas salas de aula pela manha e a saírem das salas de aula pela tardinha. 15 anos sozinhos e acabrunhados, 15 anos malcriados, 15 anos embrenhados noutros 15 anos. 15 nos cheios de dúvidas. 15 anos que sonham. Á Rita os 15 anos, custam consultas de peudo psiquiatria em Coimbra e uma corcunda que permanecerá ali até aos 80. A Rita não ergue as costas e não abre a boca nas aulas. No outro dia falou, era o 5, porque é Ana para além de Rita e foi o número que disse à sorte para que alguém respondesse à questão.Foi um conter de nervos e de pena. A Rita a querer falar…a voz a não sair. 15 anos a hipotecarem uma vida. A Helena e o João, embrenharam os 15 anos um no outro a ela convenceu-se que tem 30. Olhos muito pintados, cabelo liso, blusas de leopardo e calças à vamp. Os 15 anos soltam-se, de quando em vez, quando me puxa pela blusa para que a ajude numa questão. Faz uma boquinha de 5. Enerva-me. Baixo-me, dou um encontrão aos outros 15 anos que se aninham ao lado dela e cuja voz ainda não se fez também ouvir. Depois há as outras, aquelas que se sentam juntas. Uma que chama porca à outra. A outra que diz não se importar. Importo-me eu, sai-me num berro que as estremece. Reparo que os 15 anos são mais irritantes nelas. Eles são uns bebezões roucos e com pêlos encravados. Lambuzam uma miúda enquanto pensam no jogo da bola de final da tarde. Se elas os deixam alguns morrem por algumas horas, até entrarem em campo, plenos de preto e branco, com o Vitória como salvação. Fazem-me falta os rapazes, os meus, do ano passado. Diziam-me que um dia haveria saudades. Pois há. Já se perfumavam e faziam a barba. Olhavam-me para as pernas quando me sentava na borda da mesa e alguns coravam. Insultavam-se com virilidade e viviam num mundo paralelo onde comiam sopa de órgãos e Jesus nascia da maçã que a Eva comeu. Tinham 18 anos e carta de condução. Ainda por lá andam. Depois da doença de um colega, couberam a outro que pouco mais anos tem do que eles. O primeiro ano a dar aulas. Sai da sala deles corado, olhos desorbitados e numa frase deriva a palavra complicado, complicada, complicações. Não sei se escapará ao psicólogo de Coimbra. Os pêlos ainda não desencravaram todos e a semana passada, no parque de estacionamento, depois de ter derivado com ele a palavra calma, acalmar,calmaria, despediu-se de mim, com dois beijos fervorosos na cara, como quem beija uma santa aos pés de um altar.

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