quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Dogtooth - Os Miúdos são Estranhos como é Normal - Natura Naturans

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Aviso já que posso contar algumas coisas do filme que os mais chatos entre os interessados em ver não queiram saber já. Portanto se querem casar virgens não continuem a ler.
Aviso também aos mais chatos entre os intelectuais que não fiz qualquer pesquisa nem li nada sobre o filme antes de decidir escrever sobre ele. Também não li nada antes de o ir ver, decidimos comprar bilhetes para os premiados do estoril film festival e lá fomos sem saber quais eram.
Por norma não escrevo sobre os filmes que vejo porque no geral são coisas nada controversas: este é bom, aquele é mau, eu não gosto mas compreendo que tem qualidade e por aí adiante. Não foi o caso, este de facto gerou discórdia, em quatro pessoas de gostos semelhantes em muita coisa duas gostaram e duas odiaram e por isso apetece-me debruçar um pouco mais sobre ele.
E a história é a seguinte: um casal que tem três filhos enclausurados em casa desde sempre sem estímulos exteriores: não há televisão, não há visitas, não há telefone, não há internet e muito menos blogues.
As únicas coisas exteriores são uma tipa que o pai lá leva para aliviar as tensões sexuais do rapaz mas com quem este obviamente tem uma relação que não passa disso e os aviões que sobrevoam a casa de vez em quando mas que os miúdos não percebem o que são.
Os miúdos são estranhos. Não é normal?
Morrem de tédio sem saber, inventam jogos para matar o tédio.
Atacam-se, apalpam-se, lambem-se, dançam descontroladamente, competem e descobrem-se como meninos selvagens porque simplesmente não têm nenhum padrão.
Tem piada que dogtooth é também o nome que se dá a um tipo de padrão.
Os miúdos são freaks, e nós que nos imitamos uns aos outros desde que nascemos e que vivemos oprimidos por mil e uma convenções, não somos também freaks?
Isto pode ser desconfortável mas não me digam que não faz sentido. E não me digam que o argumento é estapafúrdio porque a realidade nos tem brindado com histórias bem mais perversas que esta, ao menos estes não viviam numa cave.
O incesto também pode ser desconfortável mas acho que não se pode discutir conceitos culturais como esse num mundo tão abstracto a esse nível como o deste filme.
O filme coloca muito a questão da natureza-vs-cultura. O que é natureza e o que é cultura? Acho que esta será sempre uma questão muito sumarenta.
Entretanto os pais fazem os miúdos acreditar que, quando lhes caírem os caninos para nascerem outros novos eles estão prontos para sair de casa, pelo que uma das miúdas decide arrancar os dentes à paulada. Graficamente não é agradável.
Mas volto a perguntar: não é uma decisão normal? Não é o que os bichos fazem quando ficam presos numa armadilha? Eu tive um pássaro que andava solto pela casa e como cagava tudo decidimos prendê-lo ao poleiro com uma corrente. Quando demos por ele tinha cortado com o bico a pata que estava presa, coitado do Júlio.
E pronto, é isto que eu penso do argumento do filme e dos argumentos de quem não gostou.
Quanto a outras questões:
O filme está sempre desfocado - Todos os filmes do festival estavam, provavelmente era da projecção.
Aquela casa cheira a frigorífico - Aquela casa é um frigorífico.
Os irmãos comem-se - Eles não sabem que os irmãos não se comem.
Eles ladram - Fizeram-nos acreditar que eram irmãos de um cão.
E acrescento ainda que o filme tem grandes desempenhos e que este não é um filme intelectualóide com questões muito pertinentes apresentadas de uma forma muito aborrecida.
Não, o filme não é minimamente secante.

4 comentários:

Simone de Oliveira disse...

Os meus alunos também se lambem, apalpam...e suspeito que também ladram!

Dantas disse...

spr pensei que esse padrão se chamasse pied de poule!

Zé da Caixa disse...

o texto é esclarecedor mas o filme é uma merda.

Chica Bacana disse...

Ao primeiro comentário: Os teus alunos também davam um bom filme.
Segundo: Tem os dois nomes.
Terceiro: Tu não gostaste, é diferente.