sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Um dos efeitos nefastos do GPS é o de nos privarem sistematicamente do contacto verbal com os locais em busca de informações mais ou menos precisas. Sabem os que me conhecem, ligeiramente desorientada e altamente limitada no relacionamento com aquela máquina que suspeito muitas vezes, sabe menos do que eu, que tão pouco sei. Ora este mês de Agosto, aberto como tantos outros à novidade despreocupada e ligeiramente demente, proporcionou-me três encontros marcantes, que me fazem ponderar seriamente a compra do dito objecto que cordialmente me sugere amiúde que saia na primeira saída. Logo no inicio do mês, naquelas tardes tórridas em que secávamos de sol e de sede, houve a procura de uma praia fluvial lá para os lados de Braga. Pergunta e mais pergunta e eis que nos calha em sorte 60 e tal anos de gente e uma informação precisa, que nos mandava seguir até à rotunda, onde iríamos caçar umas alminhas e logo de seguida haveríamos de caçar um restaurante. A nós, munidos apenas, com roupa leve e toalhas de praia, cabia a hercúlea tarefa de caçar para além de umas alminhas, o que me parecia relativamente fácil, uma vez que seguíamos de automóvel e era só passar por cima de uns quantos, caçar também um restaurante. Ora como toda a gente sabe, caçar um restaurante implica um arsenal que não possuíamos. Chegamos à praia depois de uma nova abordagem, ignorando completamente aquela chacina anteriormente proposta. Uns dias mais tarde, numa rua de Valongo, eis que novamente perdida, resolvo abordar uma alma (inha) que envergava um fato cinzento que brilhava com e ao sol. Ora este senhor que não sabia o nome da rua que eu procurava, sabia no entanto o seu número de telemóvel, pelo que lhe pareceu de todo conveniente, correr atrás do carro aos berros a dar-me o seu contacto e a pedir-me o meu. Esta semana, algures perto de uma praia do Norte, uma nova abordagem a uma local de olhos claros e idade indecifrável, permitiu a confirmação da conclusão a que eu própria já havia chegado: Tas perdida, em vez de andares de ferias, se estivesses a trabalhar não te perdias. Sábia afirmação à qual acrescentou a palavra puta, como reforço de um desprezo por tudo o que as pessoas que tem férias são e representam. Perante isto, a ideia do GPS começa a ser muito mais agradável.

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