quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A janela da cozinha não pára de bater, é esta janela aberta que faz corrente de ar, faz de propósito para me irritar.
O prédio da frente nunca mais está pronto, obras todos os dias, martelar e martelar, ou pior, as serras de cortar azulejos ou lá o que é isto agora mesmo enquanto escrevo, o barulho irrita a cadela do lado que ladra todo o dia, ou então não gosta de ter gajos mal vestidos e mal cheirosos em cima dum andaime a dois passos do terraço dela, toda pedigree.
Vou passear a Vilma, vai ser a única oportunidade hoje para gozar do meu good hair day em público, olhem para mim tão gira a apanhar merda de cão com um saco de farmácia.
As vizinhas estão ainda mais velhas e passam os dias em casa, vão à janela fazer xiu à cadela de cinco em cinco minutos, na mercearia só se fala do ladrar dela.
Há três minutos atrás a D. Arminda foi pôr insecticida à janela e veio aquele cheiro venenoso todo pela minha casa adentro. A D. Anita chama-me nas escadas, comprou um kinder barritas para mim, que querida, oito barritas só para mim. O que vale é que ontem fiz sopa e uma coisa deve compensar a outra.
Liguei a televisão ontem na tvi, estava a dar uma novela em que havia um casal de homossexuais, um gajo e uma gaja a fazer de gajo, mas não se notava nada. O pai de um deles, muito intolerante, dizia que os ía ensinar a falar à homem, bem que ela precisava, coitada, e o pai fazia de cigano, e também estava muito bem caracterizado.
Vou dedicar-me muito à escola e começar a pintar a sério, é com este pensamento na cabeça que agarro no tangerine fatal da bourjois, o meu preferido, e pinto as unhas, d e d i c a d a m e n t e.

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