domingo, 28 de novembro de 2010

Grande Exposição do Ano em Serralves

Serralves num dia de sol é um presente embrulhado pelos Deuses. Num dia de chuva também, mas o sol…o sol, já se sabe… é o ópio dos dias frios de Inverno. Serralves num dia de sol e a exposição “Às artes, cidadãos!”. Uma visita guiada pelas obras de vários artistas nascidos depois de 1961. Arte contemporânea e para uma leiga como eu, um deslumbramento constante e um questionamento permanente sobre a história, sobre a política, sobre a cidadania, sobre o Mundo, os Homens. Comovo-me e questiono, e julgo que grande parte do objectivo de todas aquelas instalações está cumprido e conseguido. Pensamos e ficamos a pensar. Tenham curiosidade e vão. Levem os filhos se os tiverem. Namorem, conversem, observem. Tomem um café n esplanada com vista para os jardins e regressem a casa e a vós mais ricos. Eu fui e vou voltar.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Contra o nacional-pessimismo, coisas boas de Portugal - Só a aquecer

Sol, Costa Vicentina, Sérgio Godinho, Madeira com as espetadas o bolo do caco e o milho frito, Zeca Afonso, José Mário Branco, Sintra, Saramago, António Lobo Antunes, açorda e migas, as festas das aldeias, pastéis de belém e pastéis de nata no geral, Planeta Tangerina, Circolando, Pedro Mexia, o Alentejo, João César Monteiro, Manoel de Oliveira, as feiras do Norte, para mim e para o Zé as férias no Norte, Fausto, mar, esplanadas, Vergílio Ferreira, os santos populares, as sardinhas, o pão, a simpatia pelas crianças dos outros, Carlos Paredes, as tascas, o vinho, as vindimas, os miradouros de Lisboa, a Arrábida, pão de ló, as castanhas na rua, a melancolia.

Workstation

Vilma, perfeitamente indiferente ao que a rodeia.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Deve ser Inverno

Hoje ainda eram cinco da tarde e já era de noite. Um horror. Hoje apercebi-me que ao respirar deitava fumo pela boca, dentro de casa. Hoje enquanto falava com o meu pai ao telefone e ele me perguntava se eu estava a andar, quando na realidade eu estava sentada no sofá, apercebi-me que há semanas que ando ranhosa e consequentemente com dificuldades em respirar. Ainda não foi hoje que lavei a roupa que está há dias na máquina, à espera de um dia de sol em que a possa estender. Todos os dias tenho lamentado o facto de ainda não ter ido buscar a casa da minha mãe o aquecedor que lá foi passar as férias de Verão. Há dias que fico com os pés e as mãos gelados enquanto estou no computador. Ontem não reparei em nenhuma destas coisas porque a parte boa é que só é Inverno de segunda a sexta, e sexta menos um bocadinho. Menos porque sei que ao fim do dia o vou buscar à estação de comboios e deixa de estar frio, dentro de casa fica mesmo um calorzinho que deixa os vidros embaciados e os pés quentinhos, não me apercebo que já é de noite, porque não importa, fico com as vias respiratórias desobstruídas, e o trabalho ou o que quer que me afaste temporariamente de casa é uma interrupção rapidamente esquecida porque não faz parte do programa. O programa pode ser tão simples como ficar em casa a ver filmes, comer comidinhas boas e sonhar com um futuro com menos viagens de comboio e mais dias de calor mas é certamente o melhor remédio contra as hostilidades do Inverno.

José e Pilar

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Lindo
(e português!)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Contra o nacional-pessimismo, coisas boas de Portugal

Praias.
Old school: anos 80.
Ainda mais old school: 1942. Nesta altura a costa alentejana só tinha duas praias assinaladas, o que deve ajudar a explicar o facto de ainda hoje existirem praias desertas na Costa Vicentina, mesmo no Verão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Contra o nacional-pessimismo, coisas boas de Portugal

Depois do último post a homenagem era inevitável. Long Live MEC!
(gosto de pensar que a foto foi tirada pela câmara do pc enquanto lia o 21h21m)

Contra o nacional-pessimismo, coisas boas de Portugal

...ou como se ganha fôlego para cá andar apesar dos pesares. E ainda se pisca o olho ao Miguel Esteves Cardoso que sempre soube tão bem gostar e fazer-nos gostar deste país porreiríssimo, que existe mesmo!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Da infância

Houve um tempo glorioso na minha família materna, pródigo de emoção, tragédia e fervilhares. Num espaço de tempo que não me parece muito extenso, a tia Emilia casou em segundas núpcias com o tio Vale, o primo Félix teve um acidente de moto e ficou comatoso para lá de um mês, a tia mais nova engravidou ainda solteira e a tia-avó Felicidade arrumou as trouxas e rumou por iniciativa a um lar recém inaugurado no centro da cidade.
Ora, nesse tempo, eu e o primo, partilhávamos a idade, uns 11 ou 12 anos, e uma tendência para a demência que escapava aos mais incautos, mas que se notava um bocadinho caso reparassem em nós com mais atenção. O que é mais maravilhoso é que dada a quantidade de emoções que se viviam naquela época, toda a família deixou de reparar em nós e podemos desenvolver a nossa dupla Bonnie and Clyde com todo o seu esplendor. E se, nos primeiros tempos nos bastava irromper pelo lar de terceira idade e pescar todos os peixes dos aquários das salas de costura e pintura dos velhotes, levando-os à loucura e a tentativas várias de suborno com rebuçados de mentol que cheiravam a queijo, com o passar dos anos evoluímos para actividades mais refinadas. De todas a que recordo com mais emoção eram as tardes de domingo, em que as mulheres se reuniam em casa da avó, ora para rezar pelo primo em coma, ora para dizerem mal do tio Vale entrado na família com fortuna mas com maus modos, não tendo nunca conquistado a família. Ora, nesse tempo, dizia eu, descobri o prazer da poesia e o primo descobriu o prazer de disparar com uma espingarda de pressão contra as vacas do senhor Maia, o latifundiário lá do sítio. Comungávamos esses pequenos prazeres, eu de caderno nos joelhos, a rimar tristeza com avareza e alegria com nostalgia e ele a gritar a cada dois minutos: olha a puta da vaca, já se fodeu. Nunca ninguém se preocupou connosco, as vacas sobreviveram todas, os cadernos de poesia arderam e ainda hoje acredito que, nunca ninguém descobriu que esse tempo mágico, fez parte das nossas vidas.

Foi Assim que Ontem Fiquei Cinco Euros Mais Pobre

Fomos à Culturgest, essa casa da cultura, ver a peça Inferno de August Strindberg encenada pela Mónica Calle.

Antes de começar vem um tipo pedir para desligar os telefones, pedir desculpa mas que hoje não vai haver tempo para conversas após o espectáculo pois é dia de desmontar, e dizer (ou avisar) que a peça tem duas horas e meia sem intervalo mas se quisermos podemos sair e voltar a entrar.

Aqui tive vontade de rir pela primeira vez mas nada de especial. Tipo "Estamos aqui a trabalhar para criar este espectáculo mas podem bazar e voltar na boa, a malta não leva a mal, não nos apeteceu fazer intervalo que a malta não ganha à hora e quer é ir cedo para casa."

Depois aquilo começa, seca, as "actrizes" a debitar texto e a primeira engana-se. Em vez de disfarçar e deixar como tinha dito não, corrige. A minha companhia manda logo um risinho mas eu achei que pronto, são coisas que acontecem.

Isto aconteceria mais umas vezes mas entretanto eu adormeci.

Acordo passados uns minutos e já passou uma hora de peça. Uma "actriz" atira-se para o chão, levanta a cabecinha e começa a debitar texto. A minha companhia começa a tentar conter o riso e eu ainda a tentar manter a compostura "Então man?" E aí há uma segunda senhora que se atira, a palavra certa é MERGULHA porque como o palco estava coberto de folhas secas ela desliza um pouco desamparada mas recompõe-se, levanta a cabeça e diz o texto muito séria. Ao meu lado ele desmancha-se a rir, eu começo a apertar o nariz para não fazer barulho e parecemos dois gatos a miar baixinho "miiiii miiiii" e as lágrimas escorrem-nos pelo rosto. Ele não aguenta e diz "Tenho de sair, até já"

Sabem como estas coisas são, fica-se ali sozinho a lembrar do episódio e não conseguimos parar de rir, estou eu com imensa dificuldade (senhor ao lado muito sério a detestar-nos) e há uma terceira que mergulha. Não dá senhores, tive de sair da sala literalmente a correr com a assistente de sala a apontar para as escadas com a lanterninha e cá fora rir rir rir até mandar aquilo tudo para fora.

Foi assim...

Incultos de merda é o que nós somos.

Nós e as pessoas que estavam cá fora a gozar também.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Viagens na terra dos outros I

Fizemos anos no dia 5. Parabéns para nós...tipo Mr. Been que enviava postais para ele mesmo na época natalícia. Enfim, nestes primeiros 12 meses, fomos recebendo as visitas dos amigos, namorados, pais, amigos, amigos, pais, namorados... e nunca pagamos a nenhum deles. Foi tudo muito livre e espontaneo como se quer. Depois, diz aquela coisa ali ao lado, que houve mais gente a passar por aqui. Pessoalmente, agradeço à Bípede que é a única que se manifesta. Ainda assim, enternece-me a pessoa lá da Suécia que cá vem parar assiduamente. Para o nosso/a anonimo/a sueco/a, fica este postalzinho e a malta agradece.

Viagens na minha terra I

Fui à capital do móvel num dia da outra semana. A capital do móvel é, como todos sabem, Paços de Ferreira, e perdoem-me todos os Pacenses que nos lêem (ninguém me tira da ideia que são às carradas), Paços de Ferreira, dizia, é medonho. O caminho feito pelo meio de aldeolas é medonho e tudo em mim ressuscitou aquela Primavera em que, os tios, a caminho de Paços de Ferreira, resolveram parar no Cô e ir à feira. Ora, na feira do Cô, entre muitas coisas vendiam-se porcos e os tios, que mais tarde haveriam de fazer fortuna com o têxtil, eram naquele tempo um casal ainda dividido entre a quietude rural e o bulício de uma cidade veraneia onde tinham comprado o primeiro apartamento. Ora, nessa paragem, estimulado pela ideia da tia, de que a carne do porco, criada em casa, seria muito mais saudável, o tio puxou de uma manada de notas e comprou um porco. Ora, toda a gente sabe que os porcos, não chegam sozinhos a casa e se os queremos lá, temos que os levar. E se a tia queria um porco, não queria que o porco viajasse connosco no carro. Nesse tempo não havia telemóveis e ficou então apalavrado que o tio mandaria alguém à casa do produtor para resgatar o bicho uns dias mais tarde. Coube a viagem ao Batata, o empregado da fábrica, que recebia por motorista, mas incluía no currículo muitas outras actividades. Ora, nessa Primavera em que o Batata subiu novamente ao Cô, eu e o primo subimos com ele. Foi uma viagem calma, o Batata conduzia suavemente pelas estradas solarengas e nós espancávamo-nos à vez no banco de trás de uma carrinha, cuja marca já não me recordo. Resgatado o porco, percebemos, eu e o primo, que na mala o bicho não resistiria muito tempo. Ainda jovens, mas já imbuídos de um espírito humanista que nos acompanha até hoje, convencemos o Batata, a meter o porco no banco de trás da carrinha, ao nosso lado. Seguraríamos o animal nos 20 e poucos quilómetros que nos separavam de casa. Prometemos ao Batata e o Batata, burro, acreditou em nós. Claro que na primeira curva, o primo inclinou-se para o meu lado, eu inclinei-me para o lado dele, largamos o porco e continuamos a brincadeira até à entrada da cidade, altura em que o bicho, farto da curva e contra curva, decidiu mudar de assento, trepou o banco da frente e assim entramos gloriosos na pequena cidade, com o Batata ao volante e o porco no lugar do pendura. Ia contar-vos que não gosto nada de Paços de Ferreira, mas entretanto também já não me apetece.

A Rede Social

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É um excelente filme sobre a criação dum grande fenómeno.
We lived in farms, then we lived in cities, and now we're gonna live on the Internet!
[Sean Parker, inventor do Napster, sócio do Facebook]

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Postal Piroso

Com as rosas monhês que me deste.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Um dos quatro de Liverpool

Tenho uma colega, que nos idos anos 80 veio da Madeira, mas ainda conserva um bocadinho de sotaque. Tenho uma colega (a mesma) que demora cerca de 3 minutos a acabar cada frase, arrastada e com sotaque da Madeira. Tenho uma colega (ainda a mesma) que usa pandémicas combinações de preto com vermelho e bolas e branco e vermelho e bolas e amarelo torrado e bolas e flores no cabelo e bolas e que demora cerca de 3 minutos a arrastar uma frase, humilhando o seu sotaque da Madeira. Tenho essa colega e ambas temos um aluno chamado Paul. Ora num destes dias em que o Paul faltou e eu perguntei à turma o que era feito do Paul, a miúda da frente muito indignada, comentou que essa, a colega das frases arrastadas e das bolas estonteantes, chama piscina ao miúdo. Estremeci e repeti: piscina?. "Sim, professora, a professora de História, diz-lhe: pool, queres ler, pooool?!". E agora, por tudo e mais alguma coisa, não consigo portar-me séria quando olho para a colega e para o miúdo-piscina.

Pela ponta dos dedos é que vamos

No final de jantar, já noite adiantada e bem bebida, achei por acaso um piano encostado ao fundo da sala. Um piano anónimo e discreto, desafinado, disse-me também ele, assim que lhe pousou os dedos. Ele. Ele sentou-se então depois e havia muito burburinho na sala. Ninguém o anunciou. Eu pedi e ele sorriu. Tocou. As vozes foram baixando e os olhares erguendo. Os nossos, alguns que não desconfiavam que a música lhe dá o pão e ele lhe dá a alma em troca, aproximaram-se. O dono do restaurante aproximou-se. Sentamo-nos mudos e imóveis. Aos homens, a alguns, vi o pêlo escuro dos braços levantar-se trémulo como uma seara ao vento. Eu senti água, abruptamente água a inundar-me os olhos. Ele, tocou quatro músicas de enfiada, num restaurante mediocre perdido no meio do nada. Era meia noite e tenho a certeza de que, por alguns momentos, o mundo parou ali mesmo e nós deixamos de saber quem eramos e onde estavamos.