Fui à capital do móvel num dia da outra semana. A capital do móvel é, como todos sabem, Paços de Ferreira, e perdoem-me todos os Pacenses que nos lêem (ninguém me tira da ideia que são às carradas), Paços de Ferreira, dizia, é medonho. O caminho feito pelo meio de aldeolas é medonho e tudo em mim ressuscitou aquela Primavera em que, os tios, a caminho de Paços de Ferreira, resolveram parar no Cô e ir à feira. Ora, na feira do Cô, entre muitas coisas vendiam-se porcos e os tios, que mais tarde haveriam de fazer fortuna com o têxtil, eram naquele tempo um casal ainda dividido entre a quietude rural e o bulício de uma cidade veraneia onde tinham comprado o primeiro apartamento. Ora, nessa paragem, estimulado pela ideia da tia, de que a carne do porco, criada em casa, seria muito mais saudável, o tio puxou de uma manada de notas e comprou um porco. Ora, toda a gente sabe que os porcos, não chegam sozinhos a casa e se os queremos lá, temos que os levar. E se a tia queria um porco, não queria que o porco viajasse connosco no carro. Nesse tempo não havia telemóveis e ficou então apalavrado que o tio mandaria alguém à casa do produtor para resgatar o bicho uns dias mais tarde. Coube a viagem ao Batata, o empregado da fábrica, que recebia por motorista, mas incluía no currículo muitas outras actividades. Ora, nessa Primavera em que o Batata subiu novamente ao Cô, eu e o primo subimos com ele. Foi uma viagem calma, o Batata conduzia suavemente pelas estradas solarengas e nós espancávamo-nos à vez no banco de trás de uma carrinha, cuja marca já não me recordo. Resgatado o porco, percebemos, eu e o primo, que na mala o bicho não resistiria muito tempo. Ainda jovens, mas já imbuídos de um espírito humanista que nos acompanha até hoje, convencemos o Batata, a meter o porco no banco de trás da carrinha, ao nosso lado. Seguraríamos o animal nos 20 e poucos quilómetros que nos separavam de casa. Prometemos ao Batata e o Batata, burro, acreditou em nós. Claro que na primeira curva, o primo inclinou-se para o meu lado, eu inclinei-me para o lado dele, largamos o porco e continuamos a brincadeira até à entrada da cidade, altura em que o bicho, farto da curva e contra curva, decidiu mudar de assento, trepou o banco da frente e assim entramos gloriosos na pequena cidade, com o Batata ao volante e o porco no lugar do pendura.
Ia contar-vos que não gosto nada de Paços de Ferreira, mas entretanto também já não me apetece.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
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2 comentários:
Muito bom, queremos mais como este!
Lin-do!
Adoro estes posts.
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