sexta-feira, 27 de novembro de 2009

E estamos quase no Inverno

Em dias de sol, dá-se mais pelo lugar. Surge depois de uma curva: inesperado, belíssimo na fealdade da paisagem que o precede e que o sucede. Nem sei bem se é um lugar ou só um instante. Seja o que for, é feito de plátanos, cores ocres desmaiadas numa paleta de Outono. Lá dentro, do lugar ou do instante, cabe uma igreja velha e um caminho que sobe para o sol e desce para a terra. Cabem outras coisas. A mim, sempre que desfaço a curva e abrando o tempo, cabe-me a esperança. Sabe-me a um Monte Velho à temperatura certa, prolongado pela garganta até desmaiar no estômago; sabe-me a amores mais velhos, mais depurados, mais intensos, mais calmos também. Naquele lugar, que também pode ser só um instante: repousamos. Repousamos depois dos beijos mordidos, repousamos depois do vermelho e do sangue, depois de ondas e vagas, depois de sal e pele e lágrimas e tudo e tudo. Ali, naquele lugar, que pode ser só um instante, faz-se um caminho longo para um outro prazer, mais lento, mas também mais firme. Podemos casar naquela igreja, ás 11 horas de um domingo de Outono, com o homem que um dia nos calcou a carne, por quem choramos, com quem rimos, com o qual vivemos. Ali, naquele lugar alcançamos a eternidade. E então, afinal, não será mesmo um lugar. É um instante. Apenas um instante.

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