quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Porque o Natal só deveria ser no Natal

Procuro um presente bonito, só porque sim. Um presente que chegará tarde para um aniversário e cedo para um Natal. Fora de horas portanto e ainda bem. Procuro-o por entre luzes multicolores e músicas da moda, por entre um ar condicionado descontrolado e gente que se arrasta depois de um dia cheio de horas que as arrastaram. Chega cedo o Natal, cada vez chega mais cedo e já não nos importamos com isso. É preciso manter a euforia do Verão, prolongá-lo e esbarra-lo de frente com uma nova alegria imaginada. Fica bem nas fotografias que todos hão-de ver um minuto depois do sorriso ter estalado em frente à árvore de bolas douradas e plástico brilhante. Quando eu era pequenina e há tanto tempo que eu fui pequenina e há tanto tempo que eu não dizia “quando eu era pequenina”. Quando eu era pequenina, dizia, o Natal era dentro de casa, quente entre portas fechadas e só nele cabiam os que mais me queriam e a quem eu mais queria. Passados meses, o Natal era revelado em fotografias e guardado. O Natal de quando eu era pequenina está guardado até hoje. Sabe a um frio bom, a um pinheiro cortado no meio dos montes. Sabe aos beijos do meu pai, ao pão quente da padaria da Isilda, ao riso da minha mãe e às laranjas verdes nas mãos dos primos. O Natal de quando eu era pequenina chegava em Dezembro, depois das composições sobre o Outono e das castanhas no forno. Depois das vindimas na casa da avó e longe, muito longe dos mergulhos gelados numa praia chamada Árvore. O Natal de quando eu era pequenina chegava no tempo certo, ao ritmo certo. Chegava no Natal.

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