A experiência, e começa já a ser alguma, mostra-me que, num ano de trabalho, num ano de 200 alunos, é relativamente fácil criarmos empatia com alguns. Acontece sempre: a turma péssima, onde três ou quatro nos fazem recuar na tentação de cortar os pulsos sempre que temos de entrar numa sala e com eles partilhar os 90 minuto seguintes. Mas mostra-me também a experiência, e começa, repito a ser já alguma, que é quase um milagre, criarmos empatia com uma turma inteira. Mais ou menos como um grande amor, mas em colectivo! Vontade de ir, vontade de estar. Nós a sermos mais do que profissionais do ensino (nunca sou, sou sempre uma pessoa cuja profissão é ser professora), sem nunca deixarmos de ensinar de uma forma, que tenta pelo menos, ser o mais profissional possível.
Aconteceu-me, há dois anos numa escola no Montijo, está a acontecer-me este ano, com a turma do Tózé….que não é só a turma do Tózé, é a turma do João, do Nuno, da Alicia e da Filipa, do Adriano e do Zé Pedro, da Liliana e do Zé Carlos… são 16 alunos de uma turma de Economia, que três vezes por semana se desmembra: 11 vão para História e 16 para Geografia. Desde as primeiras aulas que se sente. É uma cumplicidade que começa num silêncio: habitualmente turmas caladas, miúdos silenciosos e atentos que nos estudam e lentamente começam a perceber até onde podem ir e como o podem fazer.
Entro ás terças-feiras e tenho-os na 1.11. Das dezenas terças-feiras de chuva que este Inverno nos castigaram, não houve uma única em que o riso não se tivesse instalado, em que eu não tivesse ameaçado o João, por ele não querer fazer nada e ele não me tivesse dito: “Professora, olhe que eu vou para História!, a professora tá sempre a fazer bullyng comigo”.
As turmas são feitas de pessoas e o cruzamento entre elas, a convivência pacífica e o espírito de camaradagem são fenómenos inexplicáveis: ou se criam ou não. E para que se criem julgo que muito contribui o sentido de humor: nunca fui feliz com quem não soube rir comigo, e com os alunos não é excepção.
Ás vezes perguntam-me se gosto de dar aulas. Digo-lhes sempre que não, porque é verdade, mas ás vezes, e isso também lhes digo, tenho muito orgulho em ser professora. Quando? Quando vou buscar a raiz da definição e a cumpro na íntegra. Quando sinto que lhes ensino alguma coisa, não necessariamente útil para a sua formação enquanto alunos, mas acima de tudo, importante para a sua formação enquanto pessoas.
P.S e hoje de manha, o Tózé, diz-me:
“Professoooora…. “
“Diz António.”
“Não me chame António!”
“Não me bata palmas…”
“Eu li, numa revista que a Simone de Oliveira se alimentava de aplausos….”
“Queres ir para a rua outra vez?”
“Não…”
“Então escreve o sumário.”
1 comentário:
Esse PS é delicioso. Acho que devias convidar o Tózé para escrever connosco no blogue.
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