sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O AMOR - Quem Ler Tudo no Final Ganha Um Doce

Este não é o tipo de blogue que esteja muito atento à actualidade ou que se dedique a comentá-la. Não, não é. Mas é o tipo de blogue em que escrevemos o que nos apetece sobre qualquer assunto mais ou menos particular. Por isso também há espaço para comentar a adopção por casais homossexuais. E não só, porque me irrita a forma como os processos de adopção são conduzidos aqui no burgo, e toda a questão devia ser revista e não só em relação aos homossexuais. No fundo é toda a forma como se olha para as crianças e como se avalia o seu bem-estar. A família biológica é sagrada, e esses cheios de direitos têm de se esforçar mesmo muito para perderem a guarda das crianças. E eles esforçam-se.
Só eu, que nem sequer sou particularmente atenta à vida alheia nem tão velha para ter uma vasta experiência de vida, andei no liceu com uma rapariga que era filha do avô como nós dizíamos, ou irmã da mãe se preferirem. A família continua a viver toda junta e aos olhos do estado devem ser felizes e saudáveis porque é tudo sangue do mesmo sangue e isso é que importa, amén.
Na minha casa antiga tinha um vizinho velho que se amigou com a empregada , ela tinha uma filha de 9 anos, e ele gostava muito da miúda, gostava de lhe dar colo e não só. Então a miúda gritava "Laaaarga-me" e ele dizia coisas como "Dou-te dois euros para te apalpar as maminhas, um euro por cada maminha" e a mãe dizia: "Larga a miúda!" Mas se ele não largasse também não estava para se chatear.
Depois havia os do café, ainda no mesmo prédio, três míudos de onze e oito anos e uma ainda bebé. Ela não era propriamente má mãe, tirando a linguagem, o cabelo oxigenado e a pastilha elástica, mas isso quem ande na rua e nos transportes públicos aprende a desvalorizar. Ela simplesmente não era muito mãe.
Então a de onze anos era um daqueles casos excepcionais que brotam no meio do caos, uma miúda inteligente, responsável, e atinada, andava com a irmã ao colo, ela e as outras miúdas da rua, como se tivessem o último modelo de nenuco. O de oito um miúdo extremamente carente, sempre à procura de atenção, a tocar à campainha das vizinhas a ver quem lhe abria a porta e a fazer conversa e a ficar horas em nossa casa se nós deixássemos, não há cá hora do lanche ou hora de jantar. O miúdo andava pelas casas do bairro, comia onde lhe davam comida e a mãe não estava nada preocupada com o paradeiro dele. À noite quando toda a gente queria descansar e lhe dizia que eram horas de ele ir para casa ele voltava ao café. Ficavam lá até à meia-noite, uma, uma e meia... Os homens todos bêbedos, a gozarem com o tamanho das orelhas do míudo, com o nome, com a roupa, a enfiarem-no nos caixotes do lixo. Ele uma pilha de revolta, a chorar e a dizer que os matava, a mãe a rir-se. A irmã a cuidar da bebé, que tinha um parque dentro do estabelecimento, aquilo cheio de fumo. Quando todos se fartavam e íam embora a mãe lá arrumava a trouxa e por volta da meia-noite, uma, lá íam todos para casa, na linha de Sintra, uma meia hora de caminho, e no dia seguinte voltavam os meninos para a escola. Ah, vinham da escola para o café sózinhos, uma vez encontrei-os no comboio.
O primeiro caso foi numa escola de betos e o segundo e o terceiro num bairro muito respeitável no centro de Lisboa, não pensem que é do meio. Estes casos são mesmo comuns.
Tudo isto para dizer que é chocante que as crianças se arrastem em insituições à espera da reabilitação das que as pariram ou dos que inseminaram estas.
Que é chocante que adoptar uma criança seja tão difícil, que quem quer mesmo muito ter filhos e não pode tenha de esperar imenso tempo, passe por processos de avaliação duvidosos com critérios bafientos, que uma mulher sózinha tenha de ser famosa para conseguir adoptar ou então adopta um miúdo deficiente que é uma espécie de resto do que ficou entre os que foram adoptados por casais heterossexuais, com muito dinheiro e que frequentam a igreja.
É igualmente ou ainda mais chocante os casos em que, depois de a criança ter sido criada por uma família de acolhimento, a família biológica volta e o tribunal concede-lhes a guarda das crianças porque, amén, pariram-nos.
Talvez seja eu que não atribuo nenhum significado mistico-divino a este poder de os animais se reproduzirem, se calhar sou só eu que acho que isto é só biologia e que o que nos distingue é a capacidade de amar e outras coisas menos poéticas tipo a responsabilidade.
Capacidade de amar e responsabilidade que são coisas muito diferentes de mulher+homem+vivenda+monovolume.
Ah, lembrei-me de mais um caso, um casal que preenchia esta equação, por isso estava mesmo prestes a ter uma criança, só que como ele a enchia de pancada ela deixou-o, e sozinha parece que já não é tão fácil.
Mas não, não me parece que essa seja a equação.
Não me parece que as crianças sejam menos felizes ou menos saudáveis por viverem só com a mãe, ou só com o pai, ou com duas mães, ou com dois pais.
Não me parece que as crianças precisem de uma figura masculina e uma feminina em casa para crescerem bem, ou então estávamos tramados porque são cada vez mais os pais separados. Porque as crianças vão sempre ter figuras femininas e masculinas à sua volta, as tias, tios, avó, avô, professora, professor, etc. Porque ser mulher não faz com que eu eduque um filho meu como se ele fosse uma menina e o mesmo se passa com os homens e as filhas.
Porque a discriminação é um argumento hipócrita, porque se as crianças discriminam é porque são mal educadas, e se são mal educadas, e vão continuar a ser, temos de aprender a viver com isso. Ou então o gordo, o caixa de óculos, e todos esses clichés também não podem ir à escola porque vão ser gozados. Porque se temos medo que as crianças sejam discriminadas na escola então não as devemos educar, devemos sim vesti-las todas com roupas de marca, sapatos geox ou botas timberland, comprar-lhes o gameboy e a playstation e jamais dizer-lhes que não podem alguma coisa que o colega deles possa.
Sejamos razoáveis, no nosso tempo gozávamos uns com os outros, era normal. Havia sempre um ou dois na turma que eram as vítimas de serviço. Na minha escola primária era o Pedro Pinto que chorava por tudo e por nada e a outra miúda que não aprendia nada e que chumbou, imagine-se. Se nos esticávamos éramos castigados, os professores têm de estar lá para isso, levávamos recados para casa, apanhávamos se fosse preciso e pedíamos desculpa.
Ser filho de homossexuais é só mais um factor.
Ao longo do crescimento todos fomos gozados, mal falados, vítimas de colegas desdenhosos ou invejosos e muitos de nós já fomos do grupinho popular do liceu que gozava com os ténis da feira dos outros. Vai ser sempre assim ao longo da vida, se em casa houver uma boa estrutura que lhes dê educação para perceber que os outros é que são uns anormais, que lhes dê amor, que trate deles, então vão ultrapassar isso tudo. Aposto que o Pedro Pinto tem hoje uma vida normalissíma e que se nos encontrássemos íamos rir desses tempos em que ele chorava agarrado à mãe porque não queria ir para a escola.
Aposto que é melhor isso do que andar de instituição em instintuição e não ter quem lhes dê amor, verdadeiro amor, que dedicação profissional é muito bonito mas ter uma casa com pais não se compara.
E quem falou em pederastia, era uma piada não era? Deve estar a rir-se imenso com quem levou isso a sério. É que é preciso ter sido criado na selva para achar que gostar de alguém do mesmo sexo tem alguma coisa a ver com gostar de violar crianças ou pessoas no geral. E... Bibi? Casa Pia? Se calhar é mesmo o estado que anda a foder os miúdos.

2 comentários:

Simone de Oliveira disse...

Eu concordo contigo, conheço alguns dos casos que falaste (ai o sr. Limiano gostava mto de maminhas??:P)e li o post todo tudinho, por isso... sou das que aguarda o doce.

Chica Bacana disse...

Eu dou-te o doce, mas cem uma condição: tens de o vir buscar :D